Discernimento bíblico é uma das
maiores necessidades de nossos dias, mas de muitas maneiras a Bíblia e
negligenciada. Esperamos respostas místicas para nossos problemas específicos,
ou simplesmente desejamos ter alguém que nos diga o que fazer nas situações
específicas... mas nosso próprio crescimento no conhecimento da Palavra nunca
chega ao ponto de podermos aplicá-la aos vários problemas da vida.
Quando vamos a Bíblia, muitas vezes
esperamos achar o verso que fale especificamente sobre o problema enfrentado,
de forma que não precisemos de nenhum discernimento na sua aplicação, vendo a
Bíblia apenas como um livro de consultas... problema tal, verso tal...
A Bíblia não nos dá orientações
específicas ou detalhadas sobre todos os dilemas da vida, sobre cada dilema
moral, espiritual... E isso não acontece por ela não ser perfeita e abranger
toda a vida. Se ela fosse um livro com orientações específicas sobre cada
problema e dilema que já surgiu ou que surgirá no curso da história, jamais
poderia estar contida em um único livro que podemos ter, carregar conosco e
estudar... teria que ser uma biblioteca de enormes volumes que jamais
poderíamos ler em toda a nossa vida. É por isso que sabiamente a Palavra de
Deus nos dá princípios e diretrizes gerais para nós aplicarmos às nossas
situações específicas e únicas em todas as eras e gerações.
A Confissão de fé de Westminter
resume o perfeito ensinamento bíblico de maneira muito clara – “Todo o
conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a sua própria
glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado na
Escritura, ou por boa e necessária consequência, pode ser deduzida a partir da
Escritura”.
O que claramente está expresso nestas
palavras? O que significa ser o verdadeiro conhecimento bíblico? – Significa
que, enquanto nós não podemos encontrar um versículo específico sobre o nosso
problema ou necessidade específica ( muitas vezes encontramos ), vamos
sempre encontrar um princípio ou clara diretriz, que podemos aplicar à nossa
situação.
Aqui entra o grande problema de
muitos, pois o pensamento rigoroso e oração são necessários. Por isso tem sido
mais fácil escorregar para o misticismo, ou simplesmente tentar achar alguém
que aplique todo o tempo a verdade aos nossos problemas específicos... um
consultor bíblico. Pensamento rigoroso, estudo e oração... quantos estão
comprometidos assim com a Palavra? É mais fácil esperar ouvir uma voz, uma
visão... ou se já escapamos disso ( graças a Deus ) –
simplesmente acharmos alguém para todo o tempo aplicar a Palavra a nossos
problemas específicos... Por que isso é assim? Não queremos exercer o
pensamento rigoroso, estudo e oração. Devemos ler as Escrituras com oração,
buscar os princípios relevantes e claros, e por “consequência boa e
necessária” – Como bem disse a Confissão de Fé de Westminster, - não
por saltos irracionais, não por violentar o texto bíblico, saltos ilógicos... mas
por “consequência boa e necessária”, aplicá-los a nossa situação específica.
Muitos, além de não fazerem isso,
quando procuram aconselhamento, já tomaram uma decisão, e irão naquela direção
independentemente do que ouvirem... ou irão buscar “conselheiros” até encontrar
aquele que diga o que ela quer ouvir.
Por exemplo – “Com quem devo
casar?” – A Bíblia não diz. Você deseja saltos místicos irracionais,
ouvir revelações, ou ouvir vários conselheiros até que você ouça o que quer...
Mas a Bíblia não tem uma resposta específica para isso. Ela dá princípios
gerais claros de como um cristão deve agir. O casamento de ser “somente
no Senhor” – A Paciência terá que ser exercida todo o tempo. Seu
cônjuge deve estar disposto a aceitar os papéis e responsabilidades que a
Escritura delineia para um marido ou esposa... É isso, por “consequência
boa e necessária”, pelo raciocínio lógico e rigoroso sobre todo o ensino
bíblico a respeito disso e pela oração... com todos estes princípios, você tem
ou pode encontrar a resposta que está procurando. Isto é verdade para todas as
outras coisas onde o ensino direto e específico não é dado. Decidimos essas
questões usando o senso comum santificado, sempre e tão somente agindo de
acordo com as regras e princípios gerais da palavra.
No que diz respeito a salvação, tudo
é expressamente declarado na Escritura. Em relação a santificação, tudo é
expressamente declarado ou pode ser deduzido a partir das Escrituras. Quanto ao
conhecimento neste mundo, deve ser verificado pela Escritura.
A suficiência bíblica não diz para
nós que devemos desprezar toda fonte de conhecimento não-biblico – privando-nos
das riquezas que a Providência de Deus concede ao saber humano, mas sim que
tudo deve estar sob o escrutínio severo da Verdade de Deus – Sua Palavra. Ou
seja, para vivermos uma vida de obediência precisamos totalmente da Palavra, mas
precisamos de aprender outras coisas também...
Por exemplo, para sermos obedientes a
Deus no cuidado de nosso planeta, da natureza... precisamos saber o que a
ciência tem descoberto sobre a ecologia, preservação... Para sermos obedientes
ao pagar nosso imposto de renda, teremos que conhecer o manual de preenchimento
deste. Para sermos obedientes a Deus na vida econômica, precisamos observar o
mundo dos negócios, conhecer as leis da economia... Para sermos obedientes na
prática de um esporte, agirmos corretamente e honestamente, precisamos conhecer
as regras daquele esporte. Para sermos obedientes a Deus no trânsito,
precisamos conhecer as leis de trânsito de nosso país. Para aplicarmos toda a
verdade sobre a obediência no casamento, será necessário conhecer o
temperamento de nosso cônjuge... Ou seja, a Bíblia não nos diz tudo o que
precisamos saber para o viver obediente, para sermos homens e mulheres que em
tudo honram e glorificam a Deus... Ela regula tudo, e todo outro conhecimento
terá que ser submetido a Ela, mas outros saberes serão necessários.
O Sola Scriptura nos diz que não
precisamos – e não temos – mais nenhuma revelação especial. Nós temos toda
palavra infalível e inspirada. Na Bíblia, Deus nos deu e temos um padrão
perfeito para julgar todas as coisas, todos os outros conhecimentos...TUDO está
sob o julgamento da Bíblia.
João Calvino usa a ilustração dos
óculos para explicar este princípio nas Institutas. Ele disse que a Bíblia não
é apenas o que lemos, mas o que lemos com a Bíblia. Ou seja, usamos suas
páginas como um óculos para ver e ler o mundo. E Deus tem distribuído
conhecimento por todo ele, mas todo ele deve ser visto com este óculos. A mente
humana ainda que, caída e pervertida da glória original que foi criada,
é ainda adornada com presentes admiráveis do seu Criador. Devemos julgar
biblicamente o que é bom ou não que flui da mente humana segundo a Palavra, e
só então descartamos tudo que é expressão do erro. Calvino então diz que
devemos ter cuidado para não rejeitar ou condenar a verdade onde quer que ela
apareça.
Calvino diz que se considerarmos o
Espírito de Deus como o único fundamento da verdade, devemos nem rejeitar a
própria verdade, nem desprezá-la onde quer que ela se manifeste, a não ser que
desejemos desonrar o Espírito de Deus. Vamos dizer que os filósofos eram cegos
em toda sua observação e descrição artística da natureza? . . . Não, não
podemos ler os escritos dos antigos sobre esses assuntos sem grande admiração.
Mas se o Senhor quis que fôssemos ajudados em física, dialética, matemática e
outras disciplinas, como por obra e ministério dos ímpios, vamos usar essa
assistência. Pois se negligenciarmos o dom de Deus oferecido livremente nestas
artes, devemos sofrer uma punição justa por nossa preguiça.
Como dissemos, no que diz respeito a
salvação, tudo é expressamente declarado na Escritura. Em relação a
santificação, tudo é expressamente declarado ou pode ser deduzido a partir das
Escrituras. Quanto ao conhecimento neste mundo, deve ser verificado pela
Escritura, ou lido através das lentes das Escrituras. É nesses sentidos que
temos “...tudo o que pertence à vida e à piedade” - 2 Pedro
1:3
Por exemplo, a Bíblia não nos diz
tudo o que precisamos saber sobre a alimentação. Assim, podemos aprender com
nutricionistas sobre como comer de maneira a melhorar o nosso estado físico,
mental... Mas nós lemos este conhecimento através da lente da Bíblia. A Bíblia
é suficiente para nos impedir de cair em erro quando lemos neste mundo.
A Bíblia é como um mapa. Ela nos diz
de onde viemos, nos diz onde estamos e para onde devemos ir. Ela nos dá todos
os marcadores, todos os sinais essenciais que nos levam até o propósito final.
Mas há detalhes ao longo do caminho, que podemos – e se somos filhos de
Deus faremos necessariamente– ler através das lentes da Escritura – usando
para nosso benefício ao longo da jornada, sem que saiamos em nenhum momento do
caminho bíblico, do caminho na direção do alvo da soberana vocação. Você terá
que pensar. Exercer o pensamento rigoroso, estudo e oração. Ler as Escrituras
com oração, buscar os princípios relevantes e claros, e por “consequência boa e
necessária” – Como bem disse a Confissão de Fé de Westminster, - não por saltos
irracionais, não por violentar o texto bíblico, saltos ilógicos... mas por “consequência
boa e necessária”, aplicá-los a cada situação específica da vida.
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Fonte: Josemar Bessa

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